Discurso médico, saúde pública e estratégias políticas para “Uma quest o palpitante do tempo actual” a emergência da luta contra o cancro em Portugal (1904-1923).docVIP

135 Rui Manuel Pinto Costa - Discurso médico, saúde pública e estratégias políticas para… Revista da Faculdade de Letras - HISTóRIA - Porto, III Série, vol. 11, - 2010, pp. 135-164 Rui Manuel Pinto Costa Discurso médico, saúde pública e estratégias políticas para “Uma quest?o palpitante do tempo actual”: a emergência da luta contra o cancro em Portugal (1904-1923) R E S U M O O presente artigo debru?a-se sobre os meandros políticos e cientí?cos que est?o na origem da institucionaliza??o da luta contra o cancro em Portugal no primeiro quartel do século XX. Do impacto crescente do discurso médico sobre a doen?a, passando pelas teorias etiológicas dominantes e primeiros estudos estatísticos, assistiu-se ao desenrolar dos primeiros projectos que estariam na origem do Instituto Português Para o Estudo do Cancro em 1923. N?o foi sem tens?es e sem momentos de desinteresse político que o projecto entretanto se materializou. No quadro político-ideológico republicano, que per?lhava claramente uma maior interven??o do Estado nos assuntos concernentes à saúde pública, a luta contra o cancro passava muito mais pelos domínios da investiga??o e pelo mundo da forma??o médica, do que pela sua inclus?o directa nas estruturas hospitalares tradicionais. A B S T R A C T The present article approaches the scienti?c and political context that where in the origin of the institutionalization of the ?ght against cancer in Portugal over the ?rst quarter of the 20th century. One stresses the emerging medical speech, the main medical theories, as well as the ?rst statistical studies that prompted doctors and politicians to coordenate the ?ght against cancer. Although there were moments of medical tension and political disinterest, the project was materialized in 1923, with the establishment of the Instituto Português Para o Estudo do Cancro. “Se aos médicos que vivem a mourejar pela clinica das cidades e das aldeias lhes fosse possivel, que nem sempre o é, registar tod